terça-feira, 19 de julho de 2011

O texto completo, em seguida um breve comentário meu:

"A Globo resolveu jogar um balde de gelo nos gays de 'Insensato coração'.

"A Folha apurou que os autores da novela, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, foram chamados na semana passada para uma conversa com o diretor-geral de entretenimento da emissora, Manoel Martins. Na pauta: a determinação da Globo para que a história dos homossexuais Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) fosse completamente esfriada no folhetim.

"As novas cenas de Hugo e Eduardo, assim como as cenas de conversa sobre o assunto entre Eduardo e sua mãe, vivida por Louise Cardoso, serão inutilizadas.

"Aos autores e atores a Globo pediu silêncio. Nada de instigar o beijo gay nem a ira de entidades que possam encarar a iniciativa como preconceito. A ordem é esfriar o assunto sem polemizar.

"Além do corte das cenas, os autores foram instruídos a não carregarem bandeira política, a pararem de fazer apologia pela criação de uma lei que puna a homofobia. Já as cenas engraçadas do personagem Roni (Leonardo Miggiorin) estão liberadas.

"Procurada, a Globo, via assessoria, diz que a televisão é um veículo de massa que precisa contemplar todos os seus públicos e faz parte do papel da direção zelar para que isso aconteça."

Meses atrás, quando "Insensato coração" estreou, criando uma grande expectativa entre o público GLBT, devido ao alardeado "núcleo gay", escrevi em meu blog um post sobre a abordagem da questão queer nas telenovelas. Houve quem me considerasse rigoroso em demasia. Repito o que escrevi à época: a telenovela não tem compromisso com a questão queer, porque o compromisso da televisão comercial é com o capital. Na capa da última edição de "Júnior" está o ator que interpreta o personagem Hugo em "Insensato coração". A revista informa: "Agora vai? Marcos Damigo pronto para dar o beijo mais aguardado da tevê". (Agurdado por quem? Me incluam fora dessa André Fischer e companhia!) Se preocupar com beijo homoerótico em telenovela é fazer o jogo do capital, que é também o jogo da revista de futilidades dirigida ao leitor GLBT. Nos preocupamos com um beijo enquanto tem gente sendo discriminada, morta e espancada todos os dias, por ser ou, na visão dos agressores, parecer ser gay, lésbica, bissexual, travesti ou transexual. Contudo, talvez eu esteja completamente equivocado: na noite em que um beijo homoeróticos for exibido em uma telenovela global se consumará uma revolução e no dia seguinte não haverá mais homo, bi e transfobia no Brasil.

PS: Convém não esquecer que na telenovela do SBT, "Amor e revolução", ocorreu a mesma dinâminca: após uma alardeada e festejada cena de beijo entre duas mulheres, como tentativa desesperada de alavancar uma audiência pífia, também foi jogado um balde de água fria na questão queer, por receio de a minúscula audiência diminuir ainda mais.

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