quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Nasci menino, quis ser mulher, hoje sou travesti!

Nasci Marcelo hoje sou Larrat! Cresci numa família conservadora, mesmo que nos anos 80 tenha sido difícil ser mãe solteira após o divórcio de meus pais, o que a fez sentir o preconceito machista na pele, a idéia de ter um filho homem que se vestisse de mulher era inaceitável até então, o que me fez esconder meu desejo mais profundo: queria ser  mulher!

Escola sempre foi um martírio, não pelos estudos, adorava estudar , mas o fato de demonstrar visivelmente os trejeitos femininos sempre me colocou como alvo de piadas e chacotas e em nenhum instante tive acolhimento do sistema escolar.

Assumi aos 16 anos minha homossexualidade, mas ainda vivia trancado no corpo masculino, o que gerava um conflito interno muito grande, pois não me aceitava como era. Segui minha juventude como gay enfrentando os preconceitos que todo homossexual masculino assumido e afeminado enfrenta. Mas, como nunca gostei do discurso vitimista e como sempre fui uma pessoa indignada com mazelas sociais e preconceitos  não baixei a cabeça e segui em frente me formando em Comunicação Social. E ingressando no mercado de trabalho. Ainda faltava alguma coisa, faltava me enxergar como eu queria.

Somente quando retornei a Belém e ingressei minha militância no movimento social LGBT comecei a me entender e perceber que deveria sair pela segunda vez do armário e me tornar o que sou hoje, iniciei minha transformação, tomei hormônios femininos e aos poucos fui trocando minhas vestimentas. Hoje vivo uma identidade de gênero feminina.

Tinha 30 anos, quando tomei a decisão de assumir o desejo que há anos escondia e depois de adulto quando pensei já estar acostumado com os olhares e diferentes formas de tratamento tive que reaprender tudo, inclusive que meu desejo não era o que eu pensava, não queria ser mulher, queria ser travesti. Não tenho problema algum com meu sexo e sim com a forma masculina.

Mas aA sociedade não tolera a travestilidade, não somos aceitas no shopping, no supermercado, na farmácia, enfim, temos horários para existir, de preferência depois das 24h.

Diferente da maioria das travestis que ainda jovem enfrentam nosso maior problema da marginalização: a prostituição, eu comecei a viver isso adulta, num processo de reformulação de toda a minha vida. A prostituição fere a dignidade da pessoa humana, me senti ferida, sabendo que não merecia estar ali, pois tinha requisitos para isso, mas foi ali que me deparei com a realidade das pessoas trans.

Nós Travestis e Transexuais vivemos na invisibilidade, sabemos que existimos, mas todos fingem que não nos vêem. Apesar de nossa coragem de modificar nosso corpo para o qual que queremos ter, isso ainda não basta para a afirmação de nossa identidade, pois quando querem nos agredir nos tratam no gênero masculino. Não somos algumas horas de disponibilização de prazer barato para homens, muitas vezes casados que usam nossos corpos sem se preocupar com o ser humano ali existente, mas sim somos travetis e/ou transexuais 24 horas por dia, vivendo nossa identidade trans e fugindo e se escondendo do preconceito que mata.

Queremos inclusão e oportunidades, a relação travesti/transexual e sociedade só muda após intenso trabalho de educação e respeito. Só vivenciando a rua e os pontos de prostituição se garante o mínimo de segurança e dignidade numa profissão tão degradante. A socidade precisa nos conhecer para poder nos entender.

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